A Irmandade de Assassinos tem um novo mestre
A franquia Assassins Creed foi devidamente consolidada com a chegada de Assassin’s Creed 2 — título que além de expandir a história também trouxe muitas novidades à jogabilidade. Os avanços conquistaram novos jogadores e provaram para os fãs que Ubisoft estava empenhada em trazer algo verdadeiramente novo.
Por conta disso, muitos jogadores questionaram o lançamento de Brotherhood — temendo a “serialização” da franquia na forma de título genéricos que pouco adicionam a mitologia da marca. O medo é real, mas o jogo ainda é bom.
Brotherhood traz poucas, mas boas, novidades e na prática não passa de uma expansão de Assassin's Creed 2. A Ubisoft e os fãs mais ardorosos podem negar, mas no final das contas temos a nítida impressão de que todo o conteúdo do jogo poderia ter sido entregue como um simples DLC.
A desenvolvedora francesa retorna à Itália renascentista para contar uma nova história de Ezio Auditore da Firenze — protagonista de AC2 — antes de apresentar a terceira parte oficial da linha Assassin’s Creed. Não é a toa que o título do jogo não leva o numeral, nem mesmo a Ubisoft concorda que este seja o “terceiro” capítulo da saga.
No entanto, Brotherhood tem grandes méritos — mesmo que estes não justifiquem o lançamento de um novo jogo. O título realmente é mais robusto do que parece e independente da falta de inovação o que realmente importa é que a Ubisoft oferece mais um grande jogo de uma ótima franquia.
Città eterna
Roma, cidade aberta! Não estamos falando da pérola neorrealista de Roberto Rossellini, mas sim do cenário de Brotherhood. O novo Assassin’s Creed segue na Itália renascentista, mas deixa Florença e segue para “Cidade Eterna”, Roma.
A reconstrução da cidade é rica em detalhes e cheia de vida. No jogo, Roma é divida em 12 distritos, todos comandados por torres da família Borgia — arquirrivais de Ezio e representantes do poder Templário na cidade.
Enquanto as torres estiverem de pé, soldados patrulharão as ruas e o povo, oprimido, não poderão oferecer seus serviços para Ezio. Assim, cabe a você a tarefa de limpar as ruas romanas, para tanto é necessário eliminar o capitão da guarda que vigia a torre local e colocar toda a estrutura abaixo.
Uma vez liberada, os ferreiros, bancos, estábulos e outras lojas da região serão desbloqueadas — aumentando assim a sua renda. Na pratica é a mesma estrutura do jogo anterior, conforme Ezio reconstruía Monteriggioni.
Quanto mais lojas abertas, mais itens, dinheiro e habilidades para Ezio, por exemplo: alfaiatarias liberadas conferem roupas com mais bolsos para carregar itens e armas. Da mesma forma, bancos abertos, garantem mais dinheiro.
Todavia, apesar de ser um dos elementos-chave da jogabilidade, as torres dos Borgia não são exatamente essenciais para conclusão do jogo. Na verdade você pode terminar Brotherhood sem destruir todas as torres.
Todavia, a estrutura do jogo é livre e a exploração do cenário é encorajada. Além disso, ao destruir as torres dos Borgia você reduz efetivamente a força da família na cidade, ao mesmo tempo em que aumenta a sua renda, desbloqueia itens e constrói um exército de assassinos (outra novidade de Brotherhood).
O melhor de tudo é que a recriação é belíssima, e como era de se esperar os gráficos são de alta qualidade. Por sinal, com o suporte para a Nvidia Surround Vision garante visualizações verdadeiramente impressionantes, como você pode conferir no vídeo abaixo.
A irmandade
Das quatro principais novidades de Brotherhood — em relação à jogabilidade de Assassin’s Creed 2 — a introdução do sistema de recrutamento de assassinos é certamente a mais interessante. As revisões do sistema de combate, da possibilidade de cavalgar dentro da cidade e do novo esquema de metas para cada missão e o exército de assassinos são elementos que se incorporam ao jogo com muita naturalidade.
Apesar de pouco explorado, o recrutamento de membros para a Irmandade dos Assassinos. A cada torre que você destrói uma nova vaga para recrutamento será habilitada.
Assim, com as vagas abertas, Ezio poderá vasculhar as ruas em busca de cidadãos romanos capazes de se juntar à causa. Caso o indivíduo aceite se tornar seu aliado, ele ficará a disposição para ser convocado a qualquer momento.
Isso significa que você poderá pressionar um botão para ajudar Ezio em uma briga, ou ainda para executar missões especiais. Dependendo da localização e do nível de habilidade do seu assassino, ele realizará suas tarefas com mais eficácia ou não. Estes fatores também governam a forma como ele agirá durante suas missões: espreitando a vítima ou saltando como um predador.
Os membros da irmandade são separados pequenos grupos, que podem ser convocados para a ação a qualquer momento. Uma vez chamados, eles só poderão voltar a ser convocados depois de alguns minutos.
Além disso, os assassinos ganham experiência através de combate e missões de treinamento em outras regiões da Europa. Quanto mais difíceis forem as missões, mais pontos de experiência serão conferidos ao assassino bem sucedido. Essas incumbências duram de cinco a dez minutos e a interface é bem acessível.
A cada nível ascendido, você poderá aumentar a armadura ou o armamento do personagem. Níveis mais altos também desbloqueiam habilidades especiais, como bombas de fumaça e outras artimanhas típicas dos Assassinos.
O sistema não é necessariamente novo, haja vista que Ezio já podia contratar mendigos, mercenários e cortesãs para auxiliá-lo nas empreitadas de Assassin’s Creed 2. O que Brotherhood faz é expandir este conceito e redefinir a escala dos combates de Assassin’s Creed — não se trata mais de uma luta solitária contra uma grande conspiração global.
A morte anda a cavalo
Brotherhood também corrige alguns problemas do sistema de combate desarmado. Agora você pode se esquivar e contragolpear, bem como chutar os inimigos para abrir a sua defesa. Outro ponto interessante é o encadeamento de golpes (combos) e a utilização de mais de uma arma durante as execuções — você pode cortar as pernas de um oponente e, enquanto ele cai, dispara um tiro no seu rosto.
As montarias também receberam atenção especial, dessa vez os cavalos são muito mais do que simples modos de transporte. Além de poder andar a cavalo dentro da cidade, Ezio também utilizará os animais durante os combates e até mesmo como base para saltos. Todavia, a funcionalidade acaba passando como mera perfumaria, em vez de realmente adicionar algo efetivo na ação.
Diferente do novo sistema de metas presente em cada missão. Agora, Ezio deverá atender a diferentes pontos para alcançar a “sincronização total” de cada objetivo. As tarefas vão de simples desafios de tempo a exigências mais especiais, como não sofrer dano ou executar o alvo sem ser percebido. Trata-se de uma bela adição à dinâmica de missões — que tendia a se tornar um tanto repetitiva.
No meio da multidão
Brotherhood pode não ser “essencial” dentro da franquia Assassin’s Creed, porém, a introdução do modo multiplayer é realmente interessante. O melhor de tudo é que se trata de algo inteligente e bem desenvolvido — diferente da maioria dos multiplayer atuais.
Ao todo são quatro modalidades diferentes, mas todas giram em torno da mesma ideia, você é um agente da Abstego em treinamento. Basicamente, você deve localizar e eliminar um alvo enquanto outro jogador tenta impedi-lo.
Um radar ajuda o jogador a localizar o alvo (vítima ou assassino), mas a ação se desenrola nas ruas tomadas por cidadãos romanos. Todo cuidado é pouco, pois os personagens podem se perder na multidão com muita facilidade.
Os modos “Wanted” e “Advance Wanted” são uma espécie de cada um por si, sendo que o segundo é uma versão mais difícil, com regras especiais. “Alliance”, por sua vez, divide os jogadores em duplas, o que adiciona um grande nível de coordenação estratégica com seu companheiro.
Por fim, em “Manhunt” os participantes são separados em dois times para uma grande brincadeira de esconde-esconde. Uma equipe tenta se ocultar pelo mapa enquanto a outra deve procurar pelos assassinos.
ATENÇÃO O TRECHO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS
O fio da meada
A trama não afeta diretamente o seguimento da história principal de Assassin’s Creed, mas revela detalhes importantes para o entendimento do que está acontecendo no passado e no presente — ou melhor, no futuro vivido por Desmond.
O jogo começa exatamente no ponto em que o segundo título termina. Depois de confrontar Rodrigo Borgia e descobrir parte do grande segredo que há por trás da luta entre Templários e Assassinos, Ezio quer apenas um merecido descanso em Monteriggioni.
Porém, o filho de Rodrigo, Cesare Borgia, não está nada contente com o fato de você ter executado o pai dele. De posse do emblemático pomo dourado (Apple of Eden) — o misterioso artefato que permeia a história dos três jogos — ele investe contra você e todos os Assassinos.
A Monteriggioni que você ajudou a fortificar durante aproximadamente 20 horas de jogo em Assassin’s Creed 2 é destruída em questão de segundos. O herdeiro Borgia elimina de uma só vez grande parte da sua oposição, mas comete um erro fatal deixando Ezio escapar.
Ezio segue para Roma — capital dos Templários na Itália — em busca de vingança contra Cesare. A “Cidade Eterna” é ainda mais vibrante do que a Florença do título anterior e ainda mais imponente. Agora, como um Mestre da Ordem dos Assassinos, Ezio restabelece a Irmandade dentro de Roma — o ninho do inimigo.
Enquanto isso, em 2012, Desmond Miles e os Assassinos contemporâneos sobrevivem ao ataque da Abstergo. Fugindo da Ordem dos Templários o bando busca por proteção nas ruínas da Villa Auditore, em Monteriggioni.
Utilizando a Animus 2.0, o grupo acessa as memórias genéticas de Ezio Auditore e Desmond descobre que a Apple of Eden está escondida em um cofre subterrâneo nas ruínas do Coliseu, dentro do Templo de Juno. Depois de encontrar e ativar o artefato a Apple of Eden e um de seus ancestrais comandam Desmond a matar Lucy Stillman como forma de “manter o equilíbrio”.
Porém, Desmond desmaia e conforme os créditos são apresentados, dois homens carregam o rapaz até outra máquina Animus.
Assassin’s Creed 2 ½
Quem gostou de Assassin’s Creed 2 certamente vai apreciar Brothehood, porém ficará com a nítida impressão de que nada mudou. Até mesmo a trama que apresenta pontos importantes da saga não é exatamente crucial, pois termina com um tom semelhante ao do segundo jogo — com Ezio de posse da Apple of Eden, mas o mundo inteiro caindo em cima de Desmond.
As inovações são interessantes, mas não justificam o lançamento de mais um jogo. O pior é que vários problemas — como a câmera e o sistema de mira — continuam problemáticos. Nos computadores também evidenciamos algum pop-in e poucos momentos de instabilidade de frame rate durante as cenas de corte.
Além disso, o jogo tenta explorar mais o cenário fora do Animus, com Desmond e os novos Assassinos. Todavia, as sequências deixam muito a desejar, especialmente por conta dos diálogos que parecem saídos diretamente de um episódio de “Scooby-Doo”.
Nada contra os membros da Mistério Inc., mas espera-se que membros da Irmandade dos Assassinos tenham diálogos mais inteligentes do que adolescentes de uma animação dos anos 1960.
No final das contas Brotherhood é indiscutivelmente um bom jogo. Se você é fã da série não pode deixar de conferir essa edição, no entanto, se busca por algo tão inovador quanto Assassin’s Creed 2 ficará muito desapontado.
Jogadores mais exigentes perceberão a ausência de inovação, mas o resultado é eficiente e a Ubisoft nunca forçou a ideia de que este jogo é a terceira parte da saga. A trama em si é interessante e preenche algumas lacunas deixadas pelos títulos anteriores.
O modo multiplayer é o ponto alto do título e a franquia Assassin’s Creed ganha muito com a nova modalidade de jogo. A modalidade explora com muito bem a jogabilidade do título e foge do “lugar comum” da maioria dos jogos.
Se você mal pode esperar por Assassin’s Creed 3, que ainda é mistério absoluto, Brotherhood pode ser um bom passatempo. A aventura expandida de Ezio deve manter os níveis de ansiedade dos jogadores sob controle.
great work! :D