Quando se tem algo de elevado apreço e que aos nossos olhos tem sido gerido com grande sobriedade e personalidade, torna-se simplesmente num produto singular, único e imprescindível. Assim tem sido a série Yakuza, conhecida no Japão como Ryu ga Gotoku, para mim enquanto jogador e adepto das artes videojogáveis. Quando primeiramente conheci a série Yakuza, mesmo com todos os seus defeitos devidos à localização, mais do que a sua qualidade em si, foi aquela espécie de faísca que o fez brilhar que me cativou de imediato e me fez desejar mais.
No entanto, quando algo tão único e fascinante começa a surgir a um ritmo anual corre o risco de se banalizar e de perder o tom distinto e característico pois a frequência com que se apresenta perante o público pode eventualmente levar a uma espécie de saturação. Face aos lançamentos anuais da série Yakuza (4 em 4 anos no Japão e mais um spin-off na PSP e até agora 2 em 2 anos na Europa) a SEGA corria o risco de levar a série para a banalidade mas perante mais uma espantosa aventura não deixa de impressionar a forma aparentemente, mas longe de ser, simples com que a companhia Japonesa está a gerir a sua série.
Para ser mais preciso, Yakuza 4 pode muito bem ser um dos melhores títulos na série até à data e mesmo dentro das suas auto-impostas limitações consegue de forma impressionante usufruir de uma personalidade forte e cativante. Apesar do ritmo anual de lançamentos, a forma como cada um consegue ser tão diferente do anterior mantendo-se dentro de um tom familiar é algo brilhante e impressionante de ver. Quando a equipa decidiu partilhar o protagonista de Kazuma Kiryu com mais outros três novos personagens, o sentimento inicial foi de estranheza mas agora é de completa aclamação. Na verdade o título completo em Japonês menciona o "Sucessor da Lenda" e assenta-lhe bem.
Quatro personagens num enredo expansivo significam várias perspectivas que vão ao encontro uma da outra.
Yakuza 4 coloca-nos em eventos que decorrem após o que foi visto em Yakuza 3 e no mundo tumultuoso da máfia Japonesa, tudo pode mudar de um momento para o outro. Que o digam Akiyama, Saejima, Kazuma e Tanimura cujas vidas estavam de uma forma ou de outra ligadas ao submundo do crime em Tóquio mas que num instante vão ser levados ao longo de uma viagem inesquecível. Perfeitos estranhos mas com curiosas ligações vão-se tornar mais próximos do que alguma vez imaginariam e o jogador ganha um bilhete premiado para um enredo de qualidade cinematográfica.
Yakuza 4 apresenta várias melhorias e novidades mas não foge muito a si mesmo enquanto produto dentro de uma série já com tradição. As grandes novidades tão intimamente relacionadas com os novos personagens e com os conteúdos extra que foram mantidos e não cortados nesta versão Ocidental ao contrário do que aconteceu no jogo anterior. Antes de ser tornar numa só, a história dá-nos a perspetiva individual de cada um dos quatro personagens sobre uma série de eventos e permite que o jogador vá criando laços com cada um deles. É fruto de um leque de personagens maduros e credíveis que prendem o jogador ao ecrã. Mais do que uma visão específica sobre eventos, estes personagens oferecem oportunidades de jogo completamente distintas mas sempre enquadradas na série.
Enquanto Akiyama é um personagem com um encantadora forma de ver as coisas num mundo cruel, Saejima é um homem desolado e vítima do seu passado, Tanimura é um polícia cujos atos não revelam o seu verdadeiro ser e Kazuma é a lenda que todos conhecemos mas que se vê inesperadamente envolto nos acontecimentos. Consoante o jogador os vais conhecendo e vivendo a cidade na sua perspetiva, vai também ter a oportunidade de abordar e entrar em mini-jogos ou tarefas secundárias específicas a cada um deles que não podem ser feitos com mais nenhum outro dos personagens.
Igualmente específico é o estilo de combate de cada um e uma forma natural de os distinguir mas que os mantém na mesma interessantes e relevantes. Todos eles têm características únicas na forma de combater e qualidades completamente diferentes e torna-se agradavelmente aparente que o jogador tem à disposição quatro personagens diferentes e que cada uma delas poderia ter sido o único protagonista desta aventura. Algo que é igual é a forma como os personagens sobem de nível e melhoram os seus atributos. Ao completar missões e tarefas secundárias podemos ganhar pontos de experiências mas é a combater que se ganham mais desses desejados pontos. O jogador vai ganhado pontos de experiência ao derrotar inimigos e sempre que sobe de nível ganha pontos de alma que lhe permitem adquirir melhoramentos, novos golpes e ainda novas técnicas que o tornam mais forte.
A cidade tem agora mais ofertas e temos diferentes formas de a viver.
Mas o maior valor de Yakuza 4 é a forma como consegue estabelecer uma boa relação entre o ter que ser um videojogos e entreter o jogador com a procura de uma credibilidade e tom cinematográfico que um produto destes requer. Os rufias que nos desafiam na rua, os bares e os salões de divertimento, os sem abrigo que trabalham numa enorme rede de troca de informações, os diferentes grupos rivais que lutam pelo controlo da cidade. Tudo trabalham para dar vida e credibilidade a esta cidade e o certo é que quando o jogador começa a acreditar que a vida neste tipo de meio é mesmo assim, então o propósito está cumprido.
Graficamente Yakuza 4 sobe a parada sobre o seu antecessor, o que não é dizer muito. Yakuza 3 foi um jogo que chegou com um ano de atraso à Europa e mesmo no lançamento original já parecia datado. O novo capítulo mostra um pouco mais de qualidade, as personagens e as suas expressões faciais, parte tão importante da experiência, assumem uma qualidade fascinante e tudo o resto cumpre com o necessário. Por vezes existe a sensação que mais poderia ser feito mas as novas áreas, ambientes mais ricos e movimentos altamente fluidos e suaves cumprem com as necessidades. Num caso como Yakuza 4 basta referir que foram mantidas as vozes originais Japonesas que é logo marca garantida de qualidade e face ao aparato sonora tradicional da série que é mantido, podemos dizer que Yakuza 4 não foge a si mesmo logo não defrauda nem espanta quem já o conhece.
Vão ser precisas várias horas, perto de 20, para conhecer o enredo na sua plenitude e isto se quiserem deixar de "viver" Yakuza 4 e apenas procurarem o enredo. Caso queiram conhecer tudo o que a cidade tem para oferecer individualmente a cada um dos protagonistas e as facetas que assume perante cada um deles, então vão mergulhar numa experiência ainda mais profunda. A quantidade de mini-jogos em oferta realçam a sua personalidade e servem para lhe dar ainda maior credibilidade e tudo resulta em imensa diversão. Yakuza 4 beneficia da ausência dos cortes aplicados ao anterior e que sai valorizado é o produto e o jogador.
Yakuza 4 é provavelmente dentro da sua série aquele que com menos esforço consegue cativar e captar o jogador. Os seus protagonistas e a história que nos dão a conhecer são um enorme aliciante e conseguem um fascínio não visto na série desde 2009. Se são fãs da série Yakuza então não há que enganar, o quarto jogo lima e corrige os erros do anterior e mostra-se mais Yakuza do que a série alguma vez acreditou ser.
fonte: eurogamer
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